Tempos de mudança: expectativas- por onde seguir?



Tempos de mudança: expectativas e angústias.
“Era uma vez”, não é assim que se começa uma história? Na nossa “conversa” desse mês, irei contar um pouco sobre a minha trajetória, com o que vem se aproximando para mim: mudança, expectativas e angústias.
Vamos à minha história: minha vida e a palavra mudança andam intimamente ligadas. Sou a carioca que aos 9 meses de vida se mudou para o Rio Grande do Sul, depois de 1 ano retornou à Cidade Maravilhosa, filha de uma mineira que mora no Rio desde criança, e de um espanhol que já viveu na Espanha, Inglaterra e Brasil.
Aos quinze anos, quase me mudei para a Polônia para finalizar meu curso de pianista, mas, não aconteceu, muito embora o país estivesse no meu destino de alguma forma. Fiz parte do meu mestrado por lá e depois parece que nunca mais tirei as rodinhas no pé: fui trabalhar na Disney, trabalhei e estudei na Universidade da Flórida, casei e então vieram Houston, Salvador, Abu Dhabi e agora México.
Uma vez, li em algum lugar que escolher um caminho traduz-se em abandonar outros, mas mesmo que pareça que não temos escolha, como muitas vezes parece o meu caso, tenho sim o poder de segui-lo ou não. Sempre que um convite para outro país se apresenta a nós, conversamos muito a respeito do ônus e bônus dessas mudanças e, há dez anos, temos um motivo especial para nos preocuparmos ainda mais: nossa filha, essa sim não tem poder de escolha e estamos cientes disso, e se não estamos seguros, tentamos ao menos parecer assim para ela. Até o momento tem dado certo, mas talvez com a proximidade da pré-adolescência as coisas não sejam assim tão mais fáceis.
Se para mim é difícil abandonar trabalho, amigos, nossa casa, imagina para ela? Eu tenho livre acesso à internet, telefone, e-mail, mas ela não.
E o que essa mudança tem de diferente? O que é tão angustiante e causa dúvidas?
Essa é a minha terceira temporada nos Estados Unidos, como já escrevi em vários dos meus textos. Profissionalmente, estou em um momento excelente, trabalhando com o que amo, em um dos maiores centros de pesquisa do mundo e em uma plataforma onde temos os holofotes da ciência virados para nós, uma vez que a Imunoterapia tem como um dos seus percursores, o meu chefe. Verbas, prêmios, acesso ao que há de mais moderno e inovador não nos falta. E abandonar tudo isso não é nada fácil, até porque, o pano de fundo de toda essa história tem um importante propósito: a busca pela cura do câncer.
Como estou envolvida em um projeto extremamente importante, decidimos que meu marido se mudaria ainda em janeiro, mês exigido pela empresa onde ele trabalha, e eu e a Maria Antonia aguardaríamos o fim do ano letivo (final de maio) para a nossa mudança, com isso eu ganharia tempo para tentar concluir a minha pesquisa ou deixar tudo muito bem organizado para uma substituição.
Plano perfeito, correto? Errado… Aos quarenta e quatro do segundo tempo, recebo uma proposta de promoção, ao invés de cuidar e trabalhar em apenas um dos nossos protocolos de estudo clínico, fui convidada a coordenar a plataforma, e somos mais de 35 pessoas, entre cientistas, médicos, técnicos…, um desafio para ninguém colocar defeito.
E agora, como decidir, o que decidir? Família, carreira?
Confesso que nunca imaginei enfrentar uma decisão dessa. Desde o meu casamento, sabia que minha vida seria de mudanças a cada 2, 3 anos e estava de acordo com isso. Sempre fui realizada e bem sucedida na minha carreira e acreditei que se tivesse que desacelerar esse meu lado profissional, estaria preparada, e até o presente momento estava mesmo.
De alguma forma, pela primeira vez senti uma grande angústia de tomar uma atitude. E o melhor para mim é também o melhor para a minha filha e meu marido? O quanto a minha decisão impactaria na vida deles? Separação é sempre um momento delicado, ainda que apenas a separação física, pois nesse momento estávamos mais juntos do que nunca, a admiração, o amor e companheirismo que sentimos um pelo outro, apenas aumentou. Do meu lado, por vê-lo disposto e feliz a me apoiar no que eu julgasse melhor. É sabido que muitas vezes a tão sonhada igualdade de gêneros nem em casa é alcançada. E eu estava ali, vivenciando isso na prática. Meu marido disposto a morar em um país e eu em outro para que nós dois tivéssemos a mesma realização profissional. Essa expatriação para ele também era muito importante, um divisor de águas na sua carreira.
Sempre faltando um pedaço . Fonte: Pixabay

Muitas conversas se sucederam antes da decisão final. Pudemos sentir um pouco do que enfrentaríamos por alguns anos, pois ele já estava longe, mas dessa vez sem a data certa para vivermos sob o mesmo teto novamente.
Decidi ficar, decidi abraçar essa oportunidade que se apresentou para mim.
Ainda não sei se foi a melhor decisão, ainda não sei se valerá a pena, sei que virão muitos altos e baixos, entretanto, a experiência está sendo enriquecedora e como devemos fazer do limão uma limonada, no mínimo está sendo um ótimo exemplo de igualdade para a Maria, um exemplo que podemos ser profissionais, felizes, boa mãe e esposa sem abdicarmos dos nossos sonhos, que a qualidade do nosso tempo em família deve estar sempre em primeiro plano. Ninguém consegue vivenciar no dia a dia o que não sente por dentro. Então seja qual for a sua escolha, faça de forma consciente, aceite e seja feliz para fazer feliz quem está ao seu redor.
No próximo post como está sendo a vida após a minha decisão.

See you!
Texto publicado originalmente no Brasileiras pelo Mundo de minha autoria

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